Nota prévia: Eu não sou lá grande jogador de xadrez, nem sequer médio…talvez medíocre, mas gosto de jogar. E normalmente compro sempre um livro ou dois ou três sobre as coisas que gosto de fazer; o xadrez não foi excepção. Este artigo baseia-se naquilo que li nesses livros, num deles em particular.
Quando pensamos em xadrez (sim, o jogo) pensamos em estratégia. Pensamos em jogadores brilhantes, com um intelecto superior, a olhar para um tabuleiro e a processar combinações de jogadas e contra-jogadas ao ritmo de um qualquer processador dual core xhf xpto 5000Ghz em esteroides.
Olham para o tabuleiro e pensam: se eu jogar esta, então ela pode jogar a outra e eu jogaria aquela…; não, se eu jogar esta, ela também pode jogar aqueloutra, e eu jogaria outra ainda…; não, se eu jogar antes a outra, ela joga para ali e eu vou por aqui e … e por aí adiante. O GM (GrandMaster) pensa as jogadas em antecipação, pensa cada combinação até 20 movimentos à frente no jogo, é imparável!
Mas depois olhamos para uma simultânea de xadrez. Chega um qualquer Kasparov da vida a um pavilhão que tem 25, 50 ou até 604, que é o recorde do mundo segundo a FIDE (federação mundial de xadrez). Começa numa ponta, olha para um tabuleiro e faz um movimento; passa para o tabuleiro seguinte e faz um movimento; depois outro tabuleiro, outro movimento… até que chega de novo ao primeiro tabuleiro, altura em que o jogador que lá está, depois de ter pensado na jogada enquanto o GM deu a volta à sala, faz a sua jogada. O GM olha para o tabuleiro, e joga… e por aí adiante.
O GM demora a analisar cada jogada menos de um minuto, cada jogador pensa na sua jogada durante 15 minutos ou mais e, no final, tipicamente, o GM limpa a sala.
Então que magia é esta? Será que em menos de um minuto o GM consegue analisar vários movimentos possíveis e a sua propagação pelas próximas 10 jogadas? Será que o seu cérebro bate até o dual core xhf xpto 5000Ghz em esteroides? Serão assim tão brilhantes?
Parece que não. Sejamos claros: brilhantes, eles são, apenas não analisam para cada jogada todos os seus desenvolvimentos possíveis.
Ora então o xadrez, o expoente máximo dos jogos de estratégia, não passa por planear, prever e extrapolar para o futuro? Pois não. Na realidade o processo de raciocínio é muito mais simples. O processo de tomada de decisão para uma determinada jogada passa “simplesmente” por responder à seguinte questão: se eu mover esta peça para ali, a minha posição fica melhor ou pior do que a atual?
Claro que responder a essa questão não é nada fácil, e é aí que entram as mentes brilhantes do xadrez . Mas o ponto que quero sublinhar não é que é simples ou fácil ser um grande jogador de xadrez, apenas quero sublinhar que o processo de análise e decisão é diferente daquilo que pensaríamos à primeira vista.
Aprofundo aqui algumas ilações que podemos retirar do xadrez posicional para os nossos processos de decisão e estratégia.
Jaime Quintas
Ilustração de Ana Salvado | Todos os direitos reservados