Pois é, acontece a todos – de quando em quando, recebemos um email que não podemos mesmo deixar sem resposta.
Seja pelo que é afirmado pelo remetente, seja porque a nossa posição tem de ficar registada, seja porque…
Os emails que não podem mesmo ficar sem resposta partilham, quase todos, duas características vincadas:
- Podem ficar sem resposta.
- Se respondermos, vamos despoletar outra resposta que não pode mesmo ficar sem resposta.
Vamos então por partes!
Será que um email que não pode mesmo ficar sem resposta pode ficar sem resposta?
O email, tal como o conhecemos e utilizamos, chegou ao mundo em 1996. Curiosamente, foi mais ou menos quando eu comecei a trabalhar também. Posso-vos dizer que nos 27 anos de atividade profissional e de utilização de email nunca, mas mesmo NUNCA, vi um email a resolver o que quer que seja, mas já o vi a criar e alimentar grandes problemas.
O email pode registar, mas não resolve.
Mas o registo é importantíssimo, certo? Isto tem de ficar registado!
Pois parece que sim, que o registo é importante, que vai ser muito útil e que se não o fizermos estamos a expor-nos a perigos assustadores. Mas a verdade é que não me lembro de ter de recorrer a um email para provar o registo de qualquer coisa. É raríssimo que um email de registo venha a ser utilizado no futuro de forma minimamente útil e significativa.
Vai daí, digo que quase todos os emails que não podem mesmo ficar sem resposta podem muito bem ficar sem resposta, mesmo que a nossa posição não fique registada.
Não é tão importante como isso, acreditem.
Outra coisa curiosa que todos os emails que não podem mesmo ficar sem resposta partilham é que a resposta que dermos vai ser vista pelo interlocutor como um email que não pode mesmo ficar sem resposta.
Vai daí, escreve um email de resposta.
Ora como ele está a responder àquilo que vê como um email que não pode mesmo ficar sem resposta (e a resposta a emails que não podem mesmo ficar sem resposta é sempre lida como um email que não pode mesmo ficar sem resposta), a resposta dele vai ser vista por nós como mais um email que não pode mesmo ficar sem resposta.
Estão a ver onde isto vai dar, certo? Perdem-se horas de vida e energia sem fim a ler, pensar e responder a emails que não podem mesmo ficar sem resposta.
E, com base na minha premissa inicial, o tema, seja ele qual for, não vai ser resolvido por email, muito menos por um daqueles que não pode mesmo ficar sem resposta.
Então o que fazer com um email que não pode mesmo ficar sem resposta?!
Temos duas opções:
- Se o email não pode mesmo ficar sem resposta, o melhor será não responder.
- Se, ainda assim, ficarem com muita comichão porque o email precisa mesmo mesmo de resposta (atentem na redundância do “mesmo”), uma forma simples que resolve o ciclo vicioso e evita o gasto de energia será responder a dizer de forma simpática que, apesar de não concordarmos com o conteúdo do email que não pode mesmo ficar sem resposta, não vamos comentar o mesmo.
Jaime Quintas
Ilustração de Ana Salvado | Todos os direitos reservado